Orgasmo: é à brinca ou é à vera?

Por Renata Lins e Sílvia Sales*

Acho que não é nem novidade, quando se fala de orgasmo, começar lembrando a ótima cena do filme “Harry e Sally” (1989), quando, numa lanchonete de beira de estrada, Harry diz a Sally que nenhuma mulher nunca fingiu com ele. E ela desafia: “Como é que sabe?” “Porque sei”. Ela olha, dá um sorriso de lado. Ele insiste, e ela parece que desiste da discussão. A cena continua com Sally dando uma mordida em seu sanduíche e começando a gemer. Devagar, primeiro. Depois mais profundamente. Respirando forte. Balança a cabeça, mais forte, enquanto geme ainda. Sacode, estremece, bate na mesa, diz: “assim, assim”, e continua sob o olhar incrédulo de Harry até o clímax, com um gemido maior, a respiração ofegante se normalizando… para finalmente olhar para Harry, triunfante. A cena termina com uma senhora na mesa vizinha dizendo ao garçom: “eu quero o mesmo que ela está comendo”.

O cinema inteiro vinha abaixo nesta cena. Risos, risos. Risadas de homens, com uma ponta de dúvida ou, quem sabe, generoso desapego autocrítico. Risadas cúmplices de mulheres: quem nunca?

Quem nunca? Essa é a incômoda questão tratada no texto de Silvia Pilz, “Mentiras Sinceras”. Tratada, acho, com bastante honestidade. A autora não pretende dar lições, ensinar regras, repreender as mulheres. Ela conta a história. “Mulheres aprendem a simular orgasmos antes mesmo de aprender a gozar”. Eu diria que está sendo otimista no “antes mesmo”: acredito que muitas vezes o “antes mesmo” vire para sempre — vire “em vez de”. Ou, pelo menos, dure muito tempo.

Porque, né, aí é que mora o busílis: quem ensina a mulher a gozar? Onde se aprende os meandros do prazer feminino, recôndito, encapuzado, recolhido em dobras abafadas por tantos pudores e pelos? A mãe? Claro que não. Mãe não é pra isso. As amigas, as irmãs mais velhas, as primas? Bom, uma coisa ou outra pode ser. Mas acredito que no geral, pra valer, você esteja por sua conta. “You’re on your own”, como dizem os gringos. Seu prazer é seu e ninguém vai te ensinar esse caminho. É da sua conta e de sua responsabilidade.

E aqui você me para: não faltou mencionar o outro? O parceiro? Pois é. Não entrou na história ainda o parceiro. Porque nessa hora, o homem muitas vezes está mais perdido do que cego em tiroteio. O homem brasileiro, digo. Importante especificar agora. O homem brasileiro, país latino, onde para o hetero ser 100% macho ainda é uma questão 24 horas por dia. Onde sempre foi fundamental comer a mulher, matar a cobra e mostrar o pau — e, hoje em dia, fazê-la desmaiar de prazer.

Só que a ele também não ensinam como se faz.

Talvez se ensine menos ainda: porque nas revistas femininas, apesar de tantas vezes o foco estar no “como tornar-se uma deusa do sexo e proporcionar uma experiência super-mega-hiperclimática ao seu homem”, (tão aí as “Sextas de Nova” da Srta.Bia que não me deixam mentir), há de vez em quando um texto que fala de prazer feminino. Como. Onde. O quê. Um que ensina vibradores. Outro que mostra toques aqui ou ali. Pouca coisa ainda. Mas tem.

E os homens? Quem diz a eles como dar prazer às mulheres? Só as próprias mulheres mesmo. A experiência. A prática. A paciência. A humildade, até porque gozar no sexo a dois se aprende junto e a cada vez.  Mas na primeira, nas primeiras, e às vezes até nas nem-tão- primeiras-assim, há aquele pânico atávico nos homens. O de não dar conta. O de não conseguir. E, muitas vezes, as mulheres fingem. Fingem pra acabar logo. Fingem pra não deixar o cara mal. Fingem porque é melhor deixar pra outro dia, porque tiveram prazer no sexo mas estão cansadas e sabem que o gozo feminino precisa ser cuidado, cultivado, e que ali não vai rolar. Fingem por educação, porque pegaram o cara na noite e a partir de certo momento viram que não ia dar em nada mesmo. Fingem por generosidade e preocupação com o outro. Fingem porque estão de saco cheio e na verdade nem estavam tão a fim daquilo naquele dia.

Como também no começo: às vezes, a gente finge quando a gente ainda está aprendendo o caminho do orgasmo: uma forma de deixar o homem tranquilo, enquanto a gente se dá um tempo para conhecer melhor o próprio corpo, os ritmos, jeitos e intensidades de toque.

O problema é que enquanto a gente finge, eles continuam não sabendo. Continuam — os que se interessam, claro — achando que estão no caminho certo. Que é aquilo mesmo. Lembrem: ninguém mostrou ou ensinou a eles. Corpo de mulher continua sendo mistério, território inexplorado, em pleno século XXI. No Brasil do século XXI. E não é porque tantas vezes se dizem donos, não é porque se vangloriam de terem derrubado tal ou qual fêmea, não é porque posam de garanhões que eles necessariamente têm a tranquilidade ou a segurança de reconhecer que precisam aprender. De pedir ajuda. De tentar escutar o corpo das mulheres. De aceitar que sexo é caminho, é trajetória, é parceria. E às vezes eles até querem: só não sabem como. E, se a gente continuar fingindo, eles vão achar que tá bom assim.

Então, quem sabe, talvez seja melhor parar com o faz-de conta, com o fingimento que perpetua a ignorância masculina e a mediocridade das trepadas.  Vamos mostrar a eles como, onde, quando. Toques, jeitos, gostos, posições. E pra mostrar, é claro, a gente tem que aprender. Se aprender, se conhecer. Se tocar. Encontrar o caminho do gozo. Para, então, conduzir, inclinar. E ensinar. Porque do prazer da gente, a gente é que sabe. Do prazer da gente, a gente é que é dona. Quando a gente topa ir pra cama ou rede ou escada ou pro banho ou balcão da cozinha, a gente tem, sim, a expectativa do prazer ou do gozo – então, porque não ir atrás? Aos homens sempre coube o papel de ser o “bom de cama”. O que não pode “falhar” nunca, e com a obrigação de levar a mulher à lua. Muita pressão pra pouco resultado. Bobagem, né?

Vamos nos permitir passear sem pressa ou ânsia por esse caminho de descoberta. Abrindo o jogo, com tranquilidade. E se não rolar dessa vez, há diálogos ou alternativas para apimentar a brincadeira. Para mais gargalhadas. Até porque às vezes, a gente pensa com as nossas saias: orgasmo é, também, um pouco aquela campainha da escola que toca avisando que terminou o recreio. É bom? Claro que sim, mas, poxa, antes tem tanta coisa que ajuda esse bom a ficar ótimo. Preliminares, que não são só preliminares: já fazem parte do todo. E, paradoxalmente: tudo pode ser bom se não precisar dar certo. Se a gente se permitir estar presentes, testar, dizer, reclamar (é, às vezes reclamar também, porque não?). Experimentar, desse, de outro jeito. Ensaiar tempos, movimentos, toques, intensidades. Com muita presença, sem fazer de conta. Vamos brincar de sexo, que brincar é o que há de mais sério. Brincar e se divertir pelo caminho do orgasmo à vera. Vai que dá.

E, como lembra o lindo Caetano…

Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama….

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar”

.

*Renata Lins é uma carioca tranquila e bem humorada, economista e tradutora, que já esteve exilada, socialista e de uma sensibilidade ímpar, apaixonada por livros, filmes e música e que, acima de coisas, gosta de pessoas. Saiba mais dela no seu blog Chopinho Feminino ou a acompanhe no tuíter @repimlins.

* Sílvia Sales é jornalista, botafoguense, generosa e expansiva que  não tem papas na língua e nem amarras, não gosta de meias verdades, papo-meia-boca ou vida-mais-ou-menos. Uma paraense pai d’égua na luta desde sempre, bordando na areia,  bebendo do rio. Feliz. Uma pessoa como as outras, que você pode conhecer melhor no  Facebook ou seguir no Twitter @silviarsales.

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"se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim..."
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25 respostas para Orgasmo: é à brinca ou é à vera?

  1. Gilson Moura Junior disse:

    Clap Clpa clpa de pé!

    Como dizer? Aliás, o que dizer?

    Sempre ouvi essas de homem Brasileiro e meu instinto nacionalista era o de voar no pescoço, mas até olhar pro volumoso ego e sacar que é issaê, nunca havia sacado, e isso há parcos 15 anos, o que é a lingua na moça, o que é a lingua para além do protocolar “deixemo-nas encharcadas”.

    Sempre ouvi que mulheres fingem e eu fingia saber disso na prática, coisa que cofnesso parei de encanar a respeito faz pouco tempo a mais do que a descoberta da pergunta como forma boa de aprender o outro.

    Excelente esse texto, concordo com a linha, concordo que precisamos nós, membros (ui) do clube paudurecente (às vezes nem tanto), darmos conta do aprender o trem e de sair da pentelhocracia macha que “nunca viu mulher fingir orgasmo”.

    E concordo com tanta coisa que se eu for ticar vou acabar esquecendo de algo.

    Meu pai dizia que esse esporte se joga em dupla, concordo com ele.

  2. Seguir assim funciona muito bem, pois quando vc acha um bom amante (que na minha concepção é alguem que gosta de verdade daquilo tudo, gosta de descobrir a mulher, de agradar, de aprender..), ou torna alguem um bom amante, não tem preço.
    Antes desse blog eu me achava meio lenta, mas agora descobri que talvez seja normal, o problema(?) é que nunca fingi. =)

  3. gomesearaujo disse:

    Houve um tempo em que praticamente todos os homens buscavam apenas deitar por cima e ejacular, e depois deitar de lado e roncar. Depois, com o avanço das mulheres, a “obrigação” de satisfazer a parceira tornou-se, de forma deturpada, “a ditadura do orgasmo”. Mas estamos evoluindo para a cumplicidade, a busca mútua do prazer. A mulher já está mais aberta, pra dizer ao parceiro do que gosta. Sabe fazer-se tocar e se tocar onde gosta, auto-manipular-se, contribuir com a busca do seu orgasmo. Se o cara tem mente aberta pra isso, terá mais prazer e dará mais prazer, sem ter que correr o risco de vê-la simulando um orgasmo, num momento que ela está mais sendo violentada (pelo vício da obrigação) do que chamada ao prazer. É o que penso.

  4. deborahpetri disse:

    Genial, meninas. Já escrevi sobre isso, mas vocês foram além. E perfeitas. Que seja amplamente lido, por homens e mulheres. 🙂

    Beijos!

  5. Renata Lins disse:

    Gente, um comentário geral pra dizer da dificuldade de escrever sobre esse tema aí, ainda tão presente no nosso universo e tão delicado. E da alegria das pessoas estarem lendo e gostando. Aline, que bom que você nunca fingiu. Mas olha, não é comum não, viu? Gilson e Gomes, fundamental a gente ter o olhar masculino. Obrigada pela leitura e pelos comentários. Deb, bota o link do seu post aqui também, vai. Quanto mais discussão, melhor! Beijos!

    • deborahpetri disse:

      Aqui, Renata: http://osexoeasmulheres.blogspot.com.br/2010/10/fingir-orgasmo.html

      Aliás, teve uma coisa que esqueci de dizer. Nos comentários a esse texto alguns homens falaram que fingir não era mais privilégio nosso. Fui conversar com amigos a respeito, e eles confirmaram. E os motivos não diferiam muito de alguns dos nossos… viam que não iam gozar, mas não queriam frustar a mulher… a coisa estava meio morna ou eles cansados ou o que fosse… sentem que são cobrados a gozar sempre, até mesmo pela imagem passada pelos filmes pornô, onde as cenas sempre terminam com cum shot…. Enfim, o fingimento está se generalizando. Vê só…

  6. mozzein disse:

    Meninas,

    Fantástico o texto! Duas coisas que precisavam sem ditas e vocês fizeram muito bem: 1) Sexo e orgasmo (heterossexual ou homossexual ) é algo que se descobre a dois. Não existe uma receita. Existe prática, conhecimento do outro, cumplicidade. Pode rolar de primeira, delícia que sempre seja assim, mas se não rolar (e, pior, se não está rolando) é importante se conhecer. Colocar o nariz, a língua, o dedo, a boca, usar de todos os artifícios que o nosso corpo permite (e que não o “destrua”) para aproveitá-lo, na plenitude. Isso é reflexo do conhecimento do outro e do auto-conhecimento! Nossa, me sinto lendo Clarice no “Livro dos Prazeres”. 2) “SE TOQUEM”, sempre digo isso! É preciso que as pessoas pratiquem isso! Como as pessoas pretendem ter algum tipo de prazer sexual (que envolve 2 partes o psico e o somático, a mente e o corpo) se no mais simples, o corpo, elas se recusam a SE TOCAR. Me irrita profundamente quando escuto certos discursos (um expurgo dessa irritação no meu próximo post aqui do BSC) que, muitas vezes veladamente, condenam o auto-conhecimento. Pior, que condenam o reconhecimento do próprio corpo como um elemento de satisfação.

    E mais, não pensem vocês que nós homens somos qualquer coisa com relação ao nosso corpo. A grande maioria sequer sabe se masturbar! Conhecer outras áreas, então, NUNCA! E, sim, homens também fingem orgasmo, de várias maneiras. As vezes pelo simples fato de que há fodas que são mal dadas… Que não rola química… Ainda escrevo sobre isso!

    No mais, parabéns!

    • mateus disse:

      Mozzein,
      eu tava escrevendo justamente quando vc postou seu comentário. Só vi agora, portanto…
      Mas olha só que curiosa coincidência: vc menciona o livro da Clarisse e o chama de “Livro dos Prazeres”.
      E não é que a sagaz Clarisse colocou no livro 2 nomes?
      “Uma Aprendizagem” ou “O livro dos prazeres”.

      Vc falou sobre “um título” do livro. Excelente!
      E o que me tocou foi justamente, pra usar o mesmo livro, o outro título: sobre a aprendizagem.
      Não quero entrar em domínios da crítica literária, mas não te parece que o “homem sensível” exposto pelo Ulisses faz justamente isso: uma forma de opressão e domínio da Lóri ao dizer “- aprenda!”?

      E daí vem minha inquietação exposta no comentário abaixo…

      Só pensando junto, irmão…

      • mozzein disse:

        Mateus,

        Eu costumo dizer que o processo de aprendizagem é algo difícil, doloroso e, em certo ponto, pende entre alienante e emancipatório (a Lóri passa por todos esses estágios). Já diria meu querido Bourdieu (pena que não falou de sexo, só de escola) que a reprodução do sistema de ensino (e, sim, educação sexual está incluída) é principal motor de um “sistema de alienação” e que o professor (dominador, no sentido daquele que tem capacidade e reconhecimento para exercer o poder) tem a chance de, juntamente com os alunos, transformar o sistema educacional em algo produtivo, emancipatório (dá-lhe Ulisses). Todo processo de aprendizagem é um processo de dominação. Há sempre o que diz (ou faz) e os que reconhecem que aquilo o que é dito (ou feito) é “bom” (ou “ontologicamente melhor”, pra usar o Bourdieu). Sem querer reduzir a questão sexual apenas à questão simbólica do poder, acho que cabe a quem domina, a quem tem o conhecimento (“lincando” com o seu comentário abaixo e minha resposta a ele), decidir sobre exercer seu poder e emancipar, ou praticar a violência e alienar. E cabe ao dominado buscar ver o processo por cima, de forma crítica e entender a intenção do seu dominador. O mundo pode até ser dos sensíveis, mas não é dos ingênuos… infelizmente!

        Desculpa o sociologês, mas tem hora que não consigo…rs Faz parte da minha loucura diária…

        • mateus disse:

          Foda, mozzein!
          Curti a ideia (mesmo com o sociologês, até bem “traduzido”).
          E daí, pensando – e dialogando – sobre as tais questões, olha só o que saiu:

          1) – Eu vejo relação do livro da Clarisse com o texto… mas nao vejo relação da dominação do Ulisses com a que vc falou, onde o aluno domina o professor
          2) – Hum. É a mesma…só que é ao contrário. Posso criar uma relação de opressão tanto falando “me ensina” quanto falando “aprenda”… E, por isso mesmo, não tenho “solução” para o problema da opressão dos “meninos sensíveis”.
          1) – E se a outra pessoa deixar, em ambos os casos (falando “me ensina” ou falando “aprenda”)?
          2) – Tudo que é claro, aberto e consensual pode!! Tudo! O lance é que sempre colocamos o peso nas costas de quem já está “oprimido”. Do tipo: “ah, mas ele/ela deixa ser assim. Se quissesse escolher outra coisa, poderia”. Será que a Lóri “poderia” (querer) escolher outra coisa?
          1) – Óbvio que sim
          2) – Óbvio? não sei…
          1) – Acho que pensar que o “oprimido” não tem escolha é colocar quem domina como o todo poderoso e dar mais poder ainda pra ele/ela…
          2) – É… nem tanto ao céu nem tanto à terra. Ia dizer isso pra vc, mas ao contrário: colocar a responsabilidade por mudar a situação nas costas do oprimido é válido, embora não seja justo. Talvez seja realmente a única possibilidade concreta, embora continue não sendo justo… Mas, afinal, o mundo não é justo, né?
          1) – não sei…
          2) – não sabe o quê?
          1) – Se o mundo é injusto.

          Pra retomar, por fim, a coisa com o Ulisses, fico aqui sempre com a imagem da “reunião dos donos do mundo” (que não precisa ser em Davos): os caras se reúnem, para o bem de todos, e decidem “emancipar” o resto do mundo. Ainda assim, me parece uma forma (com final feliz?) de dominação.
          O problema – ou dilema – é que acho que a maior parte das opressões cotidianas (no sexo e/ou entre casais) acontece dessa forma: “por amor” (e não necessariamente por reconhecimento, como vc diz sobre o professor). Um amor de Ulisses e Lóri, claro…

          Mas (sempre tem um “mas”!?), não sei se já mudamos muito o rumo da prosa do texto das minas… Alguém vai expulsar a gente da mesa do boteco? Ou tá de boa?…

          • mozzein disse:

            Aí é que tá, Mateus, a dominação não deixa de existir. Ela pode, sim, ser alterada… é possível inverter os pólos. E a emancipação não é apenas um ato decisório do “dominador”, depende de um processo de troca entre quem exerce o poder e quem sofre o exercício desse poder, caso contrário continua sendo violência e alienação. Acho que a grande sacada da Clarisse no processo emancipatório da Lóri é que o dominador também pode ser aquele que “espera desabrochar”, aquele que aponta certos caminhos (aí residem os primeiros passos da emancipação, eu te dou opções, você que caminhe).

            Engana-se quem pensa que a dominação é só violência simbólica (alienação) ela pode ser simplesmente exercício de poder simbólico (que pode refletir em emancipação). Ela jamais é estática, ela depende de trocas e vai refletir em trocas e é transitória. E o processo emancipatório só é completo se ele permite transformar o “dominado” em sujeito de escolha e a escolha pode ser, sim, ficar com o dominador. Afinal, com cinta-liga, sapato alto e chicote é muito mais gostoso…

            E, sim, nem a deus nem ao diabo. É responsabilidade de ambos chegar lá, juntos!

  7. mateus disse:

    Tudo lindo!
    Texto lindo, fotos lindas, música linda, biscates lindas.
    (E isso não é mera estratégia de morde-e-assopra, tá!?)

    Mas…(sim, sempre tem um “mas” em coisas escritas. Olho não diz “mas”; diz gosto ou não gosto…)

    Mas a preocupação é com a “pedagogia” no sexo.

    Tenho pensado sobre isso – e visto – ultimamente muitos “homens sensíveis” re-estabelecerem seus lugares-privilegiados de dominação pela via do “me ensina?”.
    Afinal, nem sempre x alunx é controladx pelx professorx, né? (já ensinava a sábia Lolita, ou mesmo a Lóri-Lambe, da Hilda Hilst).

    Bem, sei que não é essa a intenção do post.
    E não quero estragar a festa de celebração (merecida) com essas chatices.
    Sei que o lance do que está sendo proposto aí é mesmo uma “co-criação” (pra usar esses termos contemporâneos-hipsters).

    Agora, imagina como fica o sexo quando o tal “menino sensível” olha pra vc com cara de “cão-abandonado” e diz: “- Me ensina?”.
    Como fugir dos velhos – e atualizadíssimos – condicionamentos que fazem um dos dois virar “mãe” (ou pai)?
    Como fugir dos velhos – e horríveis – condicionamentos que fazem a pessoa dominada nutrir certa simpatia pelo “sensível” dominador (sem que isso seja claro e consensual!)?
    É algo do tipo: “- Tadinho…vou fazer tudo pra ele. Afinal, ele não sabe… e me pediu com tanto carinho”.
    Me parece uma frase broxante. Pra alguém mais?
    😛

    Alguma outra “dica” pra “meninos sensíveis” poderem “descobrir” x outrx sem essa opressão velada?

    • mozzein disse:

      Mateus, se o menino dos “olhos de cachorro abandonado” vier com essa pala com o único objetivo de “tirar proveito” só digo uma coisa pras meninas: Comam ele de uma forma que ele nunca vai se esquecer, aliás, comam todos os homens da vida de vocês como se não houvesse amanhã. Se virem que era só pala aproveitadora, descarta… Qual é o problema de “fazer tudo pra ele” se, com isso, você também está gozando?

      Ensinar o outro a descobrir algo é, pra mim, a melhor parte do exercício de dominação. Uma dica para os meninos sensíveis: quanto mais passar a mão, a língua o nariz a barba, enfiar o dedo, utilizar brinquedos (sozinhos ou acompanhados), da ponta do dedão té o último fio de cabelo, mais fácil se conhecer. A responsabilidade do seu prazer também é sua!

      😉

  8. Ane Brasil disse:

    Lá pelos 14, 15 anos, lá estou eu lendo Bukowski. Era o “mulheres”… lá pelas tantas, uma delas, já meio cansada do sempre básico papai e mamãe resolve fazer um grande favor para o nosso romancista: um mapa. o desenho de uma vagina, com o caminho facilitado para o clitóris.
    a frase da moça é ótima: cães velhos também aprendem novos truques.

  9. Renata Lins disse:

    Deb, complicado … se todos fingem, todo mundo sai educado e ninguém se diverte de verdade…! Tipo “aperto de mão” sexual, né…
    Mozzein e Mateus, adorando o debate de vocês. E acho que a idéia é é essa, vamos fazer junto. Não tem muito manual. Mas a aprendizagem vem de se perder o pudor. De deixar de lado a “boa educação”. De se permitir testar, junto e separado. E olha, Mateus, entendo totalmente isso que você falou sobre a “pedagogia” do sexo, e que era uma das nossas preocupações com o texto. É delicado mesmo. Porque por outro lado, se a gente não falar nisso e deixar tudo ao sabor da “mágica” e da “química”, como se não houvesse experiência e conhecimento envolvidos, a meu ver, a gente vai continuar na mediocridade. Tesão no ponto de partida é fundamental. Mas é só o ponto de partida. O resto é caminho… sem muitas certezas, mas com muitas possibilidades!
    Ane: adorei a referência ao Bukowski. Hahahaha…. tem hora que precisa desenhar… !
    Falta o texto contando como é isso pros homens, falta outro, acho, falando de como é isso entre mulheres.

    • Vamos lá, Sucker disse:

      Renata, vou dar minha contribuição. Depois de muito tempo filosofando, questionando sobre as condições apriorísticas da fodelança, cheguei à seguinte tabela: se o cabra tem muita cachaça, preocupações ou qualquer outra coisa na cabeça e percebe que não vai gozar nem fodendo, ele tem três opções: (i) se a benga está dura e há disposição, continua até a patroa gozar; (ii) se a benga está meia-bomba, mas ainda há disposição, é parar e dar uma chupada na patroa; (iii) se a benga está mole e/ou não há disposição, foda-se, vai beber uma cerveja ou dormir. Acredito que esses são imperativos categóricos, inexoráveis, invariáveis no tempo e no espaço, que orientam um agir moralmente reto na foda. Se não estão escritos na bíblia ou no corão, deveriam estar.

  10. Sílvia Sales disse:

    Vixe! Que maravilha o debate por aqui. O assunto rende muito ainda. Queremos também os moços escrevendo sobre. Valeu demais, meninos! Super obrigada, Rê, pelas madrugadas e manhãs prazerosas de discussões e achados. É isso, “SE TOQUEM”. Acho que masturbação feminina vale um post sequência. Que achas, Rê? Bora trabalhar?

  11. mateus disse:

    Meninas, fica a singela e despretensiosa homenagem: http://cest-lavie.posterous.com/ato-falho
    Será que tem a ver? 😛

  12. Renata Lins disse:

    Muito boa a homenagem! Valeu, Mateus!!! 🙂

  13. Pingback: Orgasmo Masculino Fake: o Desejo X a Culpa |

  14. Adrianne disse:

    Muito muito bom!

  15. aiaiai disse:

    Excelente. Vamos parar de fingir. Acho que o lance do fingimento é porque ninguém quer encarar a verdade no sexo. E, por que? Antes que os homens peguem essa mania de fingir (parece q já é uma tendência) vamos nós mulheres acabar com esse lenga lenga.

    Adorei o texto.

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