Vivam as Biscates

GUEST POST por Fausto Salvadori Filho*

Curto as biscates. Sluts, bitches, vagabundas, putanas. O melhor antídoto já criado para a hipocrisia do gênero humano. Biscate não é garota de programa (puta strictu sensu) porque não age por dinheiro, mas por amor à arte.

Biscate é a Penny Lane de Quase Famosos, a Cass de A Mulher Mais Linda da Cidade, as Bacantes de Eurípedes, a Ishtar dos assírios, a Pomba-Gira da umbanda. Biscates não estão nem aí para o que você pensa, ou para que a vizinha pensa, ou as amigas, o síndico, o chefe ou o pastor. Elas têm a rara habilidade de ser como querem ser, não como o mundo espera que elas sejam. 

Biscate ama, e muito, seu coração é generoso e sua boceta é libertária. Porque a biscate não faz a alegria de um só; ela quer ser amiga da garotada. A biscate é democrática: ela leva Kirk, Spock, McCoy e se bobear até Uhura para… onde muitos homens já estiveram.

Muita mulher não entende as biscates. Biscate é para quem pode, não é para quem quer. Veja Sandy sofrendo em vão tentando desesperadamente ser aceita como biscate, sem convencer ninguém. E não basta querer dar para todo mundo para merecer o título de biscate. Se ninguém estiver interessado, não vale. Biscate é meritocracia. Muito homem não entende as biscates. Elas não querem dar para todo mundo. Querem trepar muito, mas não necessariamente com você, por mais fodão que você seja. Biscate engole porra, biscate dá o cu — mas só se estiver a fim. Porque a biscate só faz o que quer. Num belo dia, pode resolver se casar e levar uma vida monogâmica com filhos e trepadas aos sábados à noite pelo resto da vida. Por que não? Biscates são donas do seu destino.

Biscates podem ser boas namoradas, se você não fizer tanta questão de fidelidade. Lembro que tive um namoro de alguns meses com uma biscate no final da adolescência. Embora mais nova, tinha dez vezes a minha experiência sexual. Foi um namoro bacana, que durou alguns meses e terminou de morte morrida, tranquila e sem mágoas. Namoradas biscates viram amigas — para o que der e vier.

Anos depois, passando pela cidade onde essa ex morava, fiz questão de telefonar, perguntando se a gente podia se ver (biscate adora um revival).

— Claro que sim. Só preciso inventar uma desculpa pra dispensar o meu namorado hoje.

Fiquei todo felizão. Mas pensei melhor por um instante e meu orgulho de macho resolveu se manifestar:

— Vem cá. Quando a gente namorava, você fazia a mesma coisa comigo?

— Claro que não. Com você, eu fui fiel. Só com você e mais ninguém.

Mentiras tão grandes contadas com tanta inocência que te dão vontade de acreditar. Vivam as biscates.

.

* E quem disse que a gente pensa que está inventando a pólvora? Biscates e seus admiradores já navegam por esta rede faz tempo. Pensando nisso, fomos brincar de googlar e encontramos este post do Fausto Salvadori Filho, no seu blog Boteco Sujo. Fausto é, no seu próprio dizer, blogueiro amador e jornalista profissional. Generoso, concordou que republicássemos o seu texto com pequenas edições (texto original aqui). Atualmente Fausto escreve no Garimpo de Histórias.  Quer saber mais sobre ele? Leia aqui ou siga no twitter: @SalvadoriFausto. 

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"se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim..."
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4 respostas para Vivam as Biscates

  1. Bom, ninguém mais inventa a pólvora…
    Mas vocês bem que aprenderam a fazer belos fogos de artíficio com ela, não?

  2. Luiz Rojo disse:

    Será que passar a ser canalha como a maioria dos homens é ser libertária? Pode ser difícil (quem disse que transformar as coisas é fácil?), mas romper com as estruturas velhas seria, por exemplo, – claro que sim, vou avisar meu namorado de que vou sair com outro hoje! Para quem diga que isso é impossível, respondo que já vivi isso com duas namoradas e, mesmo que não o tivesse, como diria Muhammad Ali, impossível é que ainda não aconteceu. Simplesmente copiar o que de pior tem nos homens (a traição, a mentira, o não estou nem aí para a outra) não me parece muito libertário, apenas a inversão da canalhice. Quando estou solteiro, fico com quem quero (e acho que aí sim, a liberdade da mulher tem que ser a mesma, dá para quem quer, quando quer e como quer), mas se estou com alguém porque quis estar, tenho que ter, no mínimo, respeito para com esta pessoa.

    • Luiz, o que cremos é que a especificidade das relações devem ser construídas justamente no contexto de cada relação e que não deve haver duplo juízo de valor: o que vale pros homens X o que vale pras mulheres.

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