#AlmaBiscate
Por Renata Lima
Não nasci biscate.
Me fiz biscate.
Nasci mineira, da tradicional família.
Mas sou ousada (palavras, em tom elogioso, de meu pai).
E por pensar diferente de alguns muitos e muitas, por agir diferente (nem sempre melhor, claro), muito nova, sem mesmo provar o gosto da fruta, já fui tachada de má-companhia.
Decorrente da língua de jovens homens que seguiram (seguem?) o roteiro, de falar mais do que realmente fizeram, de contar como vantagem, o que pra nós, mulheres, tem que ficar escondido.
E o primeiro namoradinho, tadinho, veio com tanta sede ao pote, achando que eu era… galinha, fácil, biscate…
Não era, ainda.
E ele se descobriu namorando uma jovem da TFM, com um pai zeloso e horários para chegar. Depois do primeiro “avanço” e do esclarecimento, o temor de se/me comprometer. E ele saia da minha casa, onde me deixava, virgem, pura, intacta, e ia se encontrar com uma ex (soube disso anos e anos depois, pela ex, imagine que mundo pequeno… realmente, Ovorizonte. )
O fato é que um dos primeiros caras que beijei, em uma festa, num canto, disse pra todo o colégio que me “comera”. E todos acreditaram… menos eu, que só fiquei sabendo mais de ano depois.
A verdade é que a fama não me fez deitar na cama. Pelo contrário. Por mais que eu quisesse, as vezes, temia o momento. Era romântica, jovenzinha, e queria toda a coisa de luz de velas, declarações de amor e um príncipe no cavalo branco.
Vieram príncipes. E sapos. E ogros. E dragões.
E demorei muito, muito tempo, para realmente descobrir o que eu desejava. Desejo: Amor. Respeito.
Sexo.
No fim das contas, com um ou com vários, o que define uma biscate, ao menos para os outros, é uma mulher admitir, em público, que gosta de sexo. E que faz.
Com amor, sem amor.
Mas sempre, com respeito. Respeito por si, respeito pelo parceiro.
Respeito pelos limites e pelos momentos uns dos outros.
Sempre questionei tantos duplos padrões, tantas coisas que meu irmão, mais novo, podia fazer, e eu não. Horários, locais. Mas admito que tive mais liberdade que a maioria das colegas da minha idade. Para as mães delas, eu era muito “solta”.
Hoje, me identifico cada vez mais com o texto da Márcia, biscate convidada, sobre ser Biscate Loser.
Sim, eu sou.
Ainda que não biscateie tanto quanto desejaria (ou quanto as vezes parece que biscateio), minha biscatagem é constante.
E é constante na busca da coerência de não julgar, de não medir outras mulheres (e até homens, claro!) pela mesma régua com a qual fui medida.
Nem sempre é fácil, e as vezes escorrego. Em pensamentos, e até em palavras. Mas me arrependo (sim, Jesus, vem e me chama de Madalena, seu lindo!) e logo volto a persistir no propósito:
Se não veio o anjo e me disse para ser biscate na vida, eu mesma decido e digo que sim, eu sou biscate, prá vida!!
E com a ajuda do super time de biscates super poderosas (e poderosos), sei que vencerei!
Rê, “Jesus, vem e me chama de Madalena” foi o comentário do ano! 🙂
Beijo!
hahaha…concordo!
Concordo…rs
❤
Arrepiei;que bom seria estes textos em sala de aula,na conversa com e sem chopp, na sala de jantar ,….
Valeu.
Aos poucos a gente vai inserindo isso, rs.
Coisa difícil ser biscate mineira, bem sei. No meu caso, era o contrário: fazia cara de boa moça, e assustava os rapazes, quando só o que queria era seguir adiante. Tive que convencer o primeiro de que não, não estava cedo demais (eu já tinha 18 anos, cazzo).
Amo minha família, mas hoje entendo que isso não tem absolutamente nada a ver com o que faço da minha vida afetiva e sexual. Desafio de toda(o) mineira(o) que queira crescer de verdade é conseguir se desvencilhar da TFM.
Hoje não sou mais a ovelha negra.
Quer dizer, sou, também, mas eles morrem de orgulho da “delegada”, rá!
Entonces, acabam me ouvindo, ao menos, nas polêmicas.
Se desvencilhar da TFM, como vc disse, é o desafio da nova geração.
Tem dias que dá medo!
E não tem nada a ver com deixar de amar e respeitar os pais, os avós, as tias velhas, hahaha, pelo contrário.
Reconhecer que existe a TFM e fazer chacota dela, no que couber, acaba nos ajudando a entender o mundo onde fomos criadas, e entender é essencial para mudar!!
Beijos, biscate-TFM!
É uma doideira, isso, né? Como se a gente ganhasse o direito de ser o que quiser apenas na medida em que pode bancar isso por conta própria – financeiramente falando, e até em termos de status. Nesse aspecto, o Direito acaba sendo uma saída, porque a família pode encher a boca pra falar da gente, e desviar o assunto.
Depois que passei no concurso, o então namorado vivia passando semanas aqui em casa, depois juntamos, depois casamos só no civil por conta de plano de saúde, e ninguém da família se sentiu no direito de reclamar, nem de pedir casamento religioso.
O mais doido (e doído também, né) é o Direito poder ter esse lado.
Porque tanta gente enxerga o Direito como apenas uma forma de manter o status quo…
Estava assistindo uma maratona Jane Austen outro dia, e vi a cena do tio do Tom Lefroy, em Amor e Inocência (péssima tradução), aquela biografia romanceada da Jane Austen, na qual o tio, que é juiz na corte da Inglaterra, no século XIX, fala exatamente que o Direito é a forma de manter a propriedade (e tudo que dela advem).
E fiquei pensando: que bizarro.
Porque a Camilla Magalhães @Wonderwoman_bra comentava outro dia de um congresso para promotores no DF, no qual fora palestrante, e no qual um promotor de Justiça, esses sábios e sapientes, disse e-xa-ta-men-te isso, que o Direito existe para manter o status quo. Engasguei.
Por que a gente sabe que é tão, tão mais que isso.
Uau Renata! Que delícia de texto!!! Vc escolheu o caminho certo. A biscatice é mto melhor.
Tks, Lis!
Amo a biscatagi, e amo mais ainda minhas amigas biscate!
Beijos, linda!
Olha,
na TFM e na biscatagi meia boca, tamo junta e misturada!
Pq caixa é pra guardar sapato, não gente. Cada biscate é de uma “variedade”, e que lindas que somos tão diferentes assim e ao mesmo tempo tão iguais.
Vamos nos descobrindo e nos orgulhando de sermos quem somos, cada dia mais…
Beijos, delegata!
Biscatagi meia-boca, é nóis!
É nóis na boca do povo!
hahahaha
#chupaFamíliaMineira… rs
Eu diria que a “loseridade” tem suas vantagens, mas ainda não descobri quais. Mas acho que importa mesmo é a cabeça biscate, a alma biscate. Porque não adianta biscatear loucamente e destilar preconceitos contra os outros ou até contra si mesmo. Se culpando depois dos seus feitos. Ninguém precisa pegar sol todo dia, mas saber que o sol está lá disponível pra todos. tá parei. Beijos