(…) Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que menos trilhada me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
De vez em quando alguém me pergunta: qual a melhor opção? Teria sido melhor se eu tivesse feito X ou Y? Confesso: eu mesma às vezes me pergunto isso. Aí eu lembro: não tem melhor opção.
Como eu sei? Porque não há caminhos lineares partindo de um único lugar. Não tem encruzilhada na vida do tipo: se eu topar o teste na Globo serei atriz de sucesso, se não comparecer serei dona de casa frustrada e mesquinha. Tem um bocado de intervenientes no processo, inclusive a forma como se simboliza o que nos acontece.
O formato prova de vestibular não serve na vida, não tem resposta certa. É o caso do amor. Ou melhor, dos casos de amor. Não tem melhor caminho, não tem escolha certa, tem as opções que fazemos e o que fazemos com elas.
Por exemplo: a gente vai indo, vai indo e nota que não se está indo pro mesmo lugar. Nem mesmo pela mesma estrada. E os passos, ah, os passos, desencontrados e sem ritmo. E aí perguntam @s amig@s qual a melhor opção: ficar ou partir? E eu digo: não tem melhor escolha, tem a escolha que você está pront@ pra fazer.
Uma das frases feitas mais precisas que já li é aquela: “a vida é o que nos acontece enquanto fazemos planos”. E a gente segue, mesmo assim, planejando e pensando se o relacionamento vai dar certo.
Quando o relacionamento entra no descompasso querid@ amig@ é hora de olhar pra você mesmo e saber: o que eu quero? Hoje? Agora? Não amanhã, não em um futuro que talvez-aconteça-se-eu-sair-pela-porta-agora-ou-ficar-casar-e-ter-tres-filhos. Agora. O que te tira o fôlego? O que te faz arder? Pra onde seu desejo se volta?
Não há resposta pronta nem saída fácil. É bom ficar com quem sabe nosso jeito de se espreguiçar na cama, quem liga na hora certa, quem segurou nossa mão na hora de dor, quem riu junto, trepou muito e adivinha o que significa cada suspiro. É bom. É bom ficar só e descobrir se é possível dormir em outra posição, acordar outra hora, atender o telefone só quando quer, ser nosso próprio suporte, se masturbar e não precisar de ninguém como decodificador. É bom conhecer gente nova, dormir em camas esquisitas e em poses “nunca-antes-na-história-desse-país”, ligar e receber ligações em horas inusitadas, redescobrir cheiros e sabores, segurar a mão de alguém em crise, aprender o que significa o suspiro novo. É bom.
É terrível ficar com alguém que já nos conhece tanto. É doloroso e assustador ficar sozinho. É desconfortável e temerário conhecer gente nova. Não tem saída pronta nem resposta fácil. Tem quem a gente está sendo e o que se permite viver. O que aceitamos em nós, agora, já. O que tememos. Nossas escolhas somos nós.
O melhor caminho pode parecer ser o que não percorremos. Nele podemos imaginar opções, deleites, oportunidades, alegrias. Nele podemos projetar esperanças, anseios, podemos ser mais fortes, mais audazes, mais bonitos, mais enraçados. Neles podemos ser mais. Essa é a armadilha. Deixarmo-nos enfeitiçar pelo que é sombra e impossibilidade. E vivermos em angústia do que poderia ter sido, como se houvesse um roteiro pré-determinado e nós tivéssemos perdido a deixa.
As melhores escolhas não existem. Só existem as escolhas que fizemos. Que estamos fazendo. Essa. Agora.
A vida não é filme, você não entendeu (por mais que eu quisesse que fosse. Direção: Ford). A vida é o que está acontecendo agora. Esse momento. Essa escolha. E não é a vibe “carpe diem”-sei-que-lá. Não é só aproveitar o momento. É reconhecer que se é responsável por ele, instante. E pelo outro. E, principalmente, por nós mesmos. E que viver não é ser feliz. É estar sendo.
Lindo, inspirador, esclarecedor e, como tudo na vida, um tanto dolorido. Mas é exatamente isso.
Beijos querida.
Sim, querida, eu sempre acho que a vida é uma espécie de pêndulo, quanto mais nos permitimos sentir o dissabor, mas gozamos as alegrias.
Lindo texto. Eu sou desses, mas com vitimas.
Felicidade é conforme outra canção do Gonzaguinha “Nem o Pobre nem o Rei” um troço que não sei bem, só sei o que não é felicidade. “É só vender a alma pro dono do poder e serás o mais feliz safado” não caberia em mim.
Já isso aqui, do mesmo poeta, caberia:
“Não é somente alegria
Não é somente bom-humor
É tudo reunido no mistério de outra palavra
Uma pequena palavra
Amor amor amor”
E por isso que eu amo com fogo nas ventas.às vezes erro, às vezes acerto, na maioria das vezes me dou e me entrego e morro e vivo e é bom.
E tá aí a letra inteira procês verem que coisa linda:
Eu perguntei perguntei e perguntei
Muita gente respondeu
Não sei não sei
Mas eu só sei eu só sei e eu só sei
Ninguém é feliz sozinho
Nem o pobre nem o rei
(Diz pra eu ser feliz meu irmão)
Mamãe falou que eu era um menino muito feliz
E eu acreditei
Cresci com esta figura gravada no coração
Usei abusei lambuzei
(Eu lambuzei)
Agora eu ando em todas as bocas do meu país
Dizendo que a vida é bonita apesar dos pesares
Mas devo de admitir
Talvez eu não tenha aprendido
O que é felicidade
Dizem que felicidade é só um momento, ô…
É coisa pas-sa-gei-ra
Dizem que é questão de loteria
Que todo mundo persegue
De toda e qualquer maneira
Falam que o dinheiro não a compra
Mas há quem a encontre no mercado
É só vender a alma pro dono do poder
E serás o mais feliz safado
(Safado, safado)
É só vender a alma pro dono do poder
E serás o mais feliz safado
Ventura contentamento
Sucesso divertimento
Saúde amizade e muita paz
Acho que é tudo isto
Acho que é muito mais
Não é somente alegria
Não é somente bom-humor
É tudo reunido no mistério de outra palavra
Uma pequena palavra
Amor amor amor
(Repete)
Eu perguntei perguntei e perguntei
Muita gente respondeu
Não sei não sei
Mas eu só sei eu só sei e eu só sei
Ninguém é feliz sozinho
Nem o pobre nem o rei…
Gosto muito do Gonzaguinha. E o amor é mesmo o crime perfeito. A gente nunca sabe se quem ficou é mocinho ou vilão. Geralmente, ambos.
Adorei. Como você é inspiradora, mulher! ❤
Como você é mulher, inspiradora!
Demais.
Obrigada 😉
Coisa mais linda, hein? E já que hoje você já avisou que também é fã do Paulo Mendes Campos, ainda não encontrei ninguém que falasse desses términos com mais lirismo que ele: http://www.releituras.com/i_eleonora_pmcampos.asp (essa é, junto com Para Maria da Graça, a minha crônica favorita desse homem abençoado).
Gosto muito do Paulo Mendes Campos, quase tanto quanto de receber suas visitas às nossas letrinhas (e essa crônica é matadora).
E eu quase fui pra cama sem vc, Luciana.
E que pecado teria sido.
Porque vc fala com tanta doçura e tanta bravura.
E não vou falar demais, porque vc me desvenda tanto, que fico desnuda e rubra e com os olhos marejados.
E é isso.
Amei (isso não precisava dizer, mas, né?)
Não pode ir pra cama sem mim \o/
e eu acho que é assim mesmo, amiga, às vezes sangue nos olhos, às vezes lágrimas. A maior parte do tempo, se tudo correr como deve, risinho no canto do olho.
Beijo
Ai, ai… Que belo texto esse. Ainda mais quando nos achamos ai dentro dele. Estou bem ali: ficar ou partir? Estou com medo desse caminho aí, cheio de armadilhas e que agora me parece tão convidativo. Muito melhor que o agora (ou não). Parece que tenho adiado a vida, porque quero e não sigo em frente. Pode ser por tudo que aconteceu, ou pode ser justamente por nada ter acontecido. Eu, sinceramente, não sei o instante em que as coisas desandaram. Não sei o momento que o desejo caminhou para outro lado que não o programado. Só sei que, cada vez mais, a hora da decisão se aproxima. Ou será que já passou e eu sou uma pessoa teimosa (ou medrosa)?
Hoje, indo para casa, em pé, naquele ônibus lotado nosso de cada dia, eis que vem a minha mente uma frase de uma música que gosto muito, mas que nunca tinha me colocado assim contra a parede: If you never try, then you’ll never know.
Que bom que gostou, Aline. Eu tenho cá pra mim que a hora da decisão é cada uma. Até adiar uma escolha qualquer é uma escolha. Boa sorte na sua estrada. Beijos
Delícia de texto, Lu. Como já havia dito, um tapa na cara.
às vezes caímos em armadilhas traiçoeiras por serem conhecidas e é nada mais que uma zona de conforto, o melhor é sacodir um pouco e fazer uma resignificação de tudo, afetos, relações, amores. Sejam eles novos ou velhos, o importante é ver sempre com os olhos da possibilidade.
Super beijo! 🙂
Delícia de comentário, Dandi. E sim, o conhecido não é, necessariamente, isento de perigos.
Lu, querida, que texto delicioso. Ele é tudo que eu poderia querer ler agora, tudo que estou aprendendo a ser. Cada linha me envolveu.
Fico emocionada com seu comentário. Mesmo.
É isso, Não tem solução pronta. Não tem o que poderia ter sido. Tem o que é. Tem a vida que a gente faz a cada dia. E planos são horizontes. Mas não podem ser muletas, que aí estraga. “Não vou mudar porque tinha feito esse plano”. Não rolou, amiga. Não concretizou. Muda de plano. Muda de vida. Beijos, borboleta.
é isso, amiga. mudar não é fácil. permanecer também não. viver é muito perigoso. 😉
Juro q chorei. Sabe aquelas palavras q vc queria ter escrito? Não pq tem inveja, mas pq sente q tava tudo ali dentro, mas sem forma, desorganizado.
Boa sorte nos teus caminhos!
Perfeito. Lembre de “Toda mudança é um esforço de permanência”, obra de Tiago Romagnani. Entender a dor da permanecer já é de uma delicadeza… E ainda escrever sobre… Ah, apaixonei. Parabéns.
“Você ama ou está só acostumad@?”. A grande questão. Depois vem a ruptura e o começo. Ou até o recomeço. Mas quando a relação fica imprecisa (que ilusão, tem alguma que não o seja?) ruir é preciso, líquido e certo.
:***
Mas isso é o Carpe Diem.
É colher o momento. É estar sendo, e não ser. É colher o melhor das nossas decisões “de agora”. É evitar desperdiçar o momento com o inútil, e dedicá-lo para o que faz bem. Cada um é faz o seu “agora”, e cada um sabe o que o faz bem, e convém aplicar esse pensamento do Carpe Diem como forma de seu presente não ser um vazio, e isso é sim ser responsável para com você mesmo, independente da forma que vier o seu bem.
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Eu li esse texto pela primeira vez em 2014. Fez tanto, tanto sentido pra mim, dentro do que eu estava vivendo. Confortou, deu alento, apaziguou.
Queria te dizer que continua fazendo sentido demais. E que adorei reler hoje.
Acho que eu devia imprimir e reler todo ano. ❤
❤ ❤