Por Raquel Stanick*
O amor biscate desliga o despertador porque não tem hora para acordar. Dorme raramente e, antes dos seus poucos cochilos, arranca-nos máscaras e os cabelos.
Conta-nos em verdades, mesmo que entre parênteses ou entrelinhas.
É sussurro e sopro entre as pernas. Despe-nos do não, mostrando-nos inteiras, em total desrespeito. Por isso para algumas, amor biscate, mesmo no escuro, é claro e ainda, desassossego.
No entanto, e sem contradição, amor biscate é paz extrema de sentir-se bem. Amor biscate é pro outro, mas principalmente conosco. Também.
Sempre que o vislumbramos por aí, ele encomprida os olhos, nos espia. Benzemo-nos, dizemos amém. Fingimos alguns tropeços para desacelerar o passo. Porque precisamos olhar em seus olhos com vagar. E por receio de cair, sucumbir, morrer de. Aqui, por muitas confesso.
Ah, esse bicho doido, faz de nós caça e algoz. Morde-nos os calcanhares, arranca-nos da letargia e do orgulhoso desprezo, sucumbe a nossos pés, nos exige suor e prazer, estraçalha-nos o coração.
Amor biscate ensina-nos a acreditar na intuição, a esquecer o chão. Para não morrer na praia. De fome. De medo.
Falamos dele em bares, o bebemos em copos e corpos, embriagamo-nos só de sabê-lo.
Mais, ai de nós, amor biscate também é álcool, volátil. Algumas vezes quando tentamos capturá-lo seja por capricho ou no combate que é o desejo, pode evaporar e deixar-nos. De ressaca. Nuas em pelo.
Lemos seus livros, choramos por seus fins em palcos, concordamos em filmes seus conselhos.
Amor biscate é um espetáculo. Que tem sempre bis.
Amor biscate é cansaço. De exposição e aplauso.
Amor biscate é recomeço.
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* Raquel Stanick, de acordo com ela mesma, não é, mas está, artista visual, entre mil outras e tantas coisas (inclusive quase sempre apaixonada) lá pras bandas da Paraíba. Delicada, arruaceira, mocinha do bem, mulher da noite, poeta do amor fácil e da vida difícil (e outras tantas vezes o inverso), é, a partir de hoje, não apenas biscate na vida mas biscate-fixa-escrevente no nosso clube. Quer mais Raquel? Ela é colunista da Revista Mostra Plural, se desalinha em Todas Essas Coisas Sem Nome e ainda tem este blog onde você esbarra em um pouquinho do lindo trabalho dela: Ceci, n’est pas un blog
Belissimo. Quente, assanhado. Biscate, oras!
Lindona…sou sua fã! Você sabe…estarei também sempre aqui te lendo!
Mais, ai de nós, amor biscate também é álcool, volátil. Algumas vezes quando tentamos capturá-lo seja por capricho ou no combate que é o desejo, pode evaporar e deixar-nos. De ressaca. Nuas em pelo.
Beijos
Adorei essa parte que diz:
“- Amor biscate é um espetáculo. Que tem sempre bis.
Amor biscate é cansaço. De exposição e aplauso.
Amor biscate é recomeço.”
0 meu amor é biscate por isso está sempre em recomeço….
show!!!
clap. clap. clap…
mais um, mais um, mais um…
faceiro demais esse post… ❤
Amei.
Poesia pura, que fala direto na pele, atravessa os poros, entranha.
Arrepio.
Suas lindas!!! Seu lindo!!! 🙂
Ao eterno recomeço que nós, biscates, cultivamos! Delícia!
Tão bonito vê uma biscate no seu habitat natural. Raquelzita, nega, seus textos sempre são uma gostosura de se ler, mas esse fez a língua dançar. Foda. Bota pra lascá aí junto com essas biscas profissas e boa sorte! 🙂
Belissimo…
“Amor biscate ensina-nos a acreditar na intuição, a esquecer o chão. Para não morrer na praia. De fome. De medo.
Falamos dele em bares, o bebemos em copos e corpos, embriagamo-nos só de sabê-lo.”
Oi Raquel, como você faz assim, descrevendo minha relação com o bofe? Acredito nisso que você escreveu, amor sempre em recomeço. O que não quer dizer DMs para todo sempre mas sim liberdade e frescor. Não é fácil mas é uma delícia… Uma beijuca!
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